Eu, jovem emocionado ganhando bem pela primeira vez na vida tinha um belíssimo Chevrolet Cruze 2016 com 50 mil rodados (50 mil também era a quantidade de parcelas do carro) e depois de muito trabalhar, quitei o carro. Sem problemas, sem riscos, perfeito. Pensei comigo: o que eu faço com ele agora? Bem como qualquer jovem emocionado segui o que existe de mais importante em qualquer ser humano: o fogo no cu. Poxa, sempre quis um carro antigo e tive a oportunidade de ter um belíssimo (com toda beleza que 5 mil reais poderiam comprar na época. Se fosse uma arte esse carro com certeza seria uma representação do dadaísmo) Chevrolet Opala Diplomata 87 que vendi com dor no coração por 2 mil reais por precisar comer na época (futilidade, eu sei). Então, hoje, jovem com um salário milionário de 10 mil reais pensei comigo: quer saber, vou comprar um Landau (sonhei com ele uns dias antes e achei que fosse um sinal, no caso do demônio em pessoa para me persuadir a viver uma aventura sem precedentes em minha vida). Vendi meu Cruze, juntei mais 10 mil reais e comprei um Galaxie Landau 1978 azul escuro, automático, de um senhor que o guardava feito uma jóia rara no fundo de um prédio. Meus planos? Foda-se, vou andar de Landau (fazendo 2km por litro, dane-se a natureza) por alguns meses (talvez 2) para conseguir dar entrada em um carro normal. No mesmo que comprei o Landau decidi ir para o interior com ele, onde minha família mora e curtir com todo mundo a aquisição de sonho.
Pois bem, foram ótimos 300 km rodados com uma sensação inenarrável de estar naquele carro. Chegando na cidade dos meus pais, dei mais algumas voltas (ainda tinha meio tanque, foram só 60 litros de gasolina dos 120 disponíveis), liguei para meu pai e disse: "Abre o portão, vou guardar o carro" (na inocência de estar fazendo uma grande surpresa. Afinal, era um Landau impecável). Na rampa para subir na garagem o carro pegou fogo no motor. Sai do carro e fiz tudo que eu poderia fazer: olhar e ver uma luz em mim se apagar aos poucos. Contivemos o fogo com extintores, água de torneira, vizinhos em volta fazendo uma oração (gosto de pensar que era uma oração para que tudo estivesse ok e não que estavam pensando: que porra é essa?). Deixamos o carro na rua e tentei dormir com o pensamento: Porra, não deu 24 horas com o carro e eu botei fogo nele.
No outro dia, guinchamos ele para o melhor restaurador de carros antigos que existe na região que disse: eu não faço meios trabalhos, se quiser restaurar, fazemos tudo do zero. Eu inocente (por favor, não me tirem esse sentimento de inocência) disse: Manda ver.
Para não estender ainda mais a história, o carro estava podre de lata, voltei para casa de carona e devendo 250 mil de restauração de um carro que andei por 5 horas.