Maior reestruturação em décadas reforça atendimento remoto,
mas também especializa agências. Rodrigues: Estrutura montada para transformação se tornou
permanente.
O Itaú Unibanco está na reta final de uma reestruturação de
seu banco de varejo, que passará pela maior mudança em décadas. O atendimento
presencial não sairá de cena - ao contrário, é peça importante no modelo -, mas
a ideia é que haja uma melhor integração com os canais digitais.
A ideia é que o cliente tenha a mesma experiência
independentemente da forma que acessar os serviços. “Seremos um banco digital
com conveniência física”, afirma André Rodrigues, diretor-executivo responsável
pelo varejo do Itaú, em entrevista na qual revelou a nova estratégia com
exclusividade para o Valor.
Com foco no “mobile first” e uso intensivo de dados, a
expectativa do Itaú é que o digital passe a representar metade da receita do
varejo em até três anos, sem que deixe de haver crescimento nos canais
tradicionais. Hoje, a contribuição do digital fica entre 20\% e 25\%.
Batizado de iVarejo 2030, o projeto começou a ser estudado
há cerca de dois anos e envolveu alguns milhares de funcionários, com o
objetivo de adaptar o banco às mudanças no cenário competitivo, tecnológico,
regulatório e, principalmente, às novas demandas dos clientes. Porém, a
estrutura provisória acabou sendo convertida em um espaço de transformação
permanente.
O modelo que emergiu dessa revisão combina os mundos físico
e digital - “phygital”, como diz Rodrigues - e também se apoia no conceito de
“omnicanalidade”. Ou seja, acesso ao mesmo tipo de atendimento e aos mesmos
serviços independentemente do canal que o cliente usa para acessar.
Todos os clientes terão acesso a uma agência digital, com um
grupo de gerentes que poderão atendê-los de forma remota. Esses profissionais
estarão disponíveis até às 20h, num horário estendido em relação ao da rede
física. O atendimento poderá ser feito por telefone, chat e WhatsApp. “Não é um
telemarketing. O gerente digital conhece a carteira de clientes da região, sabe
que o usuário está logado, é parceiro do gerente físico.”
A rede física, por sua vez, continuará tendo papel
estratégico. Apesar do esforço de digitalização, não estão previstos fechamentos
de agências nem a conversão em massa para unidades de negócios, sem caixa, como
vêm fazendo os concorrentes Bradesco e Santander. Segundo Rodrigues, o Itaú já fez
ajustes importantes no número de agências depois da fusão com o Unibanco e
manter essa estrutura é uma exigência dos clientes. O banco tinha um total de 4.334
agências e postos de atendimento no fim de março.
Isso não significa que as agências passarão incólumes às
mudanças. A ideia é que elas ganhem mais especialização.
Será criado o modelo de agências “hubs” e satélites, onde
uma delas terá uma estrutura mais completa e outras, ao redor, cobrirão a mesma
região, mas de forma mais enxuta. “O modelo atual de agência ‘full service’ é
ineficiente”, afirma Rodrigues.
A proposta é que as agências passem a contar com
especialistas em temas como investimentos, crédito imobiliário e seguros, em
vez de concentrar todo o atendimento no gerente da conta, como acontece hoje.
Essas especialidades serão definidas conforme a necessidade da região atendida.
Para isso, o Itaú tem feito contratações de especialistas.
Em investimentos, foram mais de 1 mil consultores; em seguros, cerca de 600; em
pequenas e médias empresas também houve aumento das equipes. Em contrapartida,
as agências deixarão de ter dois gerentes gerais como acontece hoje, em que há
um comercial e outro operacional – o que significa que deve haver redução de
pessoal com isso. “Mas o foco aqui nunca foi redução de custo em si, mas sim melhorar o atendimento aos clientes”, afirma.
Nessa lógica, a remuneração dos profissionais também vai
mudar. O incentivo deixará de ser definido com base em vendas de produtos e
passará a refletir o valor gerado para o cliente. As metas também passarão de
mensais para trimestrais. “A gente delega mais para as equipes, que selecionam
o que é melhor para o cliente naquele momento da vida dele”, afirma Carlos
Vanzo, diretor-executivo.
Mudança nessa linha já foi feita na área de investimentos,
em que a remuneração deixou de ser baseada em produtos - uma resposta a algo
que o banco considera um conflito de interesses na relação entre plataformas
como a XP e seus agentes autônomos.
Ao costurar os modelos físico e digital, o Itaú também tem
em vista gerar dados para afinar a “conversa” com os clientes conforme a
necessidade deles. “É um trabalho que nem sempre aparece, de infraestrutura,
para que a gente possa ter informações dos clientes de forma que essas
conversas sejam mais contextualizadas”, diz Vanzo.
A necessidade de reformular o varejo reflete o acirramento
da competição no setor e a própria mudança de comportamento dos clientes, que
se acostumaram ao atendimento digital nos mais variados serviços. Trata-se
também de um mercado que voltou a crescer nos últimos anos. “Lá em 2019
percebemos que precisávamos revisitar a operação de varejo de forma profunda,
sem promover uma ‘terra arrasada’, mas também sem ‘vacas sagradas’ que não
pudessem ser tocadas”, conta Rodrigues. Depois da fusão com o Unibanco, em
2008, a base de clientes de varejo do grupo ficou mais ou menos estável por
alguns anos, mas voltou a crescer de 2017 para cá. Em 2020, com o impulso da
pandemia, foram abertas 2 milhões de contas pelo digital.
Só que, dos 55 milhões de clientes do banco, apenas 25
milhões são correntistas e 30 milhões são “monoprodutos”, ou seja, têm cartão
de crédito, ou financiamento imobiliário. Um dos objetivos da reestruturação é
gerar mais engajamento nesse público. “São clientes que o banco já tem um
relacionamento constituído, mas que ainda não tinha uma oferta ampla para eles,
e têm um custo de aquisição marginal”, diz Rodrigues.
O banco também vai reforçar o serviço de folhas de
pagamentos, onde há um universo de prospecção de 36 milhões de clientes, e em
aposentados e pensionistas do INSS, um segmento rentável. Em paralelo, o iti,
que nasceu como carteira virtual e se tornou um banco digital, faz parte da
estratégia de varejo, mas tem vida própria – mirando principalmente clientes
que hoje a instituição não tem.
A meta do iVarejo 2030 é entregar 80\% das mudanças este ano
e colher 90\% da captura de valor até 2023. Rodrigues não dá detalhes, mas diz
que o projeto deve levar a uma contribuição “substancial” para os resultados do
banco.
Pergunta
Flavio Prado
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